10 julho 2008

Caso Alston coloca aliado de Alckmin na mira

Segundo os jornais de grande circulação que repercutem o caso Alstom, investigadores têm novas pistas sobre o elo entre políticos tucanos e a Alstom no pagamento de propinas. O caso pode ser uma 'pedra no sapato' de Geraldo Alckmin, porque parte das investigações do MP mira o período em que o tucano governou o Estado. O vereador do PSDB em São Paulo, Tião Farias, ex-chefe de gabinete do governo Mário Covas, é suspeito de ser o responsável por transformar o suborno da Alstom em caixa de campanha do PSDB.

O vereador do PSDB em São Paulo, Tião Farias, ex-chefe de gabinete do governo Mário Covas, recebeu em 2002 doação eleitoral do empresário Romeu Pinto Júnior, apontado por autoridades da Suíça como dono da MCA Uruguay, offshore que teria recebido R$ 8,7 milhões para enviar a empresas que prestaram serviços fictícios em contratos firmados pelo grupo Alstom no Brasil como o governo do Estado de São Paulo.

A multinacional é investigada por suposto pagamento de propina para obter contratos no governo tucano em São Paulo. Farias, que em 2002 tentou se eleger deputado estadual, é aliado de Geraldo Alckmin, e foi o único dos 12 parlamentares do partido na Capital a defender a candidatura do ex-governador à Prefeitura.

Nos documentos aparecem apenas as iniciais dos nomes, com referências a um "ex-secretário do governador", supostamente encarregado de intermediar a negociação das "gratificações ilícitas" pagas a pessoas ligadas ao governo entre 1988 e 2001. Outros documentos mencionam que a propina tinha como destino o "partido no poder" em São Paulo - o PSDB -, além do TCE e a Secretaria de Energia.

A doação a Farias, que comandou o gabinete de Marinho, está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em nome de Romeu Alves Pinto Júnior, no valor de R$ 1 mil. Ao Ministério Público, Romeu negou ser dono da MCA Uruguay, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. Ele disse que possui empresa homônima no Brasil. Farias informou que desconhece Romeu. A doação, diz ele, foi pela compra de convite para jantar de campanha.

Bomba-relógio para Alckmin

O caso Alstom pode ser 'pedra no sapato' de Geraldo Alckmin. Parte das investigações do MP mira o período em que o tucano governou o Estado. Apoiadores de Gilberto Kassab (DEM) ironizam o tucano, alegando que ele pode ser chamado de "Geraldo Alstom".

Alckmin nega irregularidades e diz que deve haver apuração. Mas, ao mesmo tempo, se manifestou contra CPI do caso na Assembléia, por não haver "fato concreto".

O código "Neves" (revista Época)

Uma das principais peças da investigação é um memorando manuscrito em francês por um executivo da Alstom. Nele, é identificada a rota das propinas. O dinheiro iria para integrantes do Tribunal de Contas do Estado (TCE), funcionários da Secretaria de Energia e ainda para o caixa do PSDB. Na descrição dos intermediários da propina, o executivo da Alstom, em seu memorando, usou vários códigos. Entre eles constam "RM", "CM", "Splendor" e "Neves".

Os investigadores acreditam já ter identificado três desses códigos. O tal "RM" seria Robson Marinho, ex-secretário da Casa Civil do governo Covas e atual conselheiro do TCE. "CM" seria Cláudio Mendes, um sociólogo que atuou como lobista de empresas da área de energia junto ao governo paulista entre o fim dos anos 80 e 2004. "Splendor" é uma das seis offshore (empresas de fachada instaladas em paraísos fiscais no exterior) por onde também teriam sido feitos pagamentos da propina pela Alstom, segundo documentos do MP da Suíça. Segundo o memorando, a corrupção estaria relacionada a um contrato de R$ 101 milhões da Eletropaulo, a antiga estatal de energia, privatizada em 1998, com o grupo Alstom. Robson Marinho e Cláudio Mendes negam que tenham intermediado ou recebido propinas. E quanto ao código "Neves"? Os investigadores acreditam que era a pessoa responsável por transformar o suborno da Alstom em caixa de campanha do PSDB. O memorando do executivo da Alstom é de 21 de outubro de 1997. Nele, "Neves" aparece ao lado da cifra "8,5%", suposto valor da propina.

Os investigadores acreditam que darão um passo para elucidar o código "Neves" quando destrincharem o envolvimento do vereador paulistano Tião Farias (PSDB) com a história. Farias não é citado nos documentos da Suíça, mas tem ligações com várias pessoas investigadas no caso. Além de ter sido um dos assessores mais próximos de Mário Covas, foi secretário-adjunto de Robson Marinho na Casa Civil. Em 2002, quando concorreu a um mandato de deputado estadual, Farias recebeu doações dos empresários Romeu Pinto Júnior e Sabino Indelicato, citados nos documentos suíços. Pinto Júnior é acusado de ser o dono da MCA Uruguay, outra offshore supostamente usada como canal de propinas. Indelicato é dono da Acqua Lux Engenharia, suspeita de operar o esquema de propina da Alstom por meio de contratos de consultoria de fachada.

ENTENDA O CASO ALTOM

Ao apreender documentos da Alstom, o Ministério Público da Suíça descobre documentos que fazem referência a um suposto pagamento de propina para que a multinacional ganhasse contratos no governo do Estado, desde 1995 nas mãos do PSDB

As anotações citam as siglas R.M. e C.M., que seriam Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, e Cláudio Mendes, que atua na área de energia

Há suspeitas de propina envolvendo contratos no Metrô e Eletropaulo. Empresas prestadoras de serviço seriam usadas para repasse de "remuneração" às partes envolvidas no esquema

Ao todo, a Alstom teria repassado R$ 13,5 milhões a offshores que integrariam o esquema.

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